Em sua mais recente análise sobre o orçamento de outono do Reino Unido, o ING avaliou quatro cenários possíveis. No entanto, o principal risco para os mercados não está nos números, mas na figura da chanceler Rachel Reeves.

A projeção base do banco permanece relativamente otimista: a expectativa é que Reeves eleve os impostos, mas sem adotar medidas que possam reacender a inflação — cenário que o mercado já começou a precificar.

Como resultado, a libra reagiu, e vem se enfraquecendo, os rendimentos dos títulos públicos estão em queda, e as expectativas sobre as taxas de juros do Banco da Inglaterra caminham para uma postura mais branda.

O alvo do ING para o par EUR/GBP é de 0,880. Ainda assim, o foco do mercado não está no orçamento, e sim no fator humano.

Há poucos dias, Reeves enfrentou uma situação delicada após ser revelado que ela não possuía a licença necessária para alugar sua própria casa, fato que levou a oposição a pedir sua renúncia imediata.

O problema foi resolvido rapidamente: o primeiro-ministro Keir Starmer declarou apoio público à chanceler, e a imobiliária admitiu o erro. À primeira vista, o caso parecia encerrado, mas o mercado permaneceu inquieto. Em julho, quando Reeves também esteve à beira de deixar o cargo, os rendimentos dos títulos dispararam e a libra caiu acentuadamente.

Os investidores sabem bem que uma mudança no comando do Tesouro costuma trazer turbulência aos mercados: um novo ministro poderia rever a política fiscal, aumentar o endividamento ou simplesmente introduzir imprevisibilidade, especialmente em um momento em que a emissão de dívida pública segue elevada.

O ING observa que, embora a renúncia de Reeves seja improvável, seus efeitos seriam imediatos — alta nos rendimentos, queda da libra e aumento da volatilidade.

Em um país onde escândalos políticos são mais frequentes que revisões de projeções econômicas, até mesmo um simples erro de licenciamento pode ser suficiente para abalar o mercado de títulos.